terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

20 – O Capital (Le Capital) – França (2012)


Direção: Costa-Gavras
Os cidadãos do século XXI são escravos do Capital: sofrem com os problemas e celebram os triunfos. Esta é a história da ascensão de um escravo do sistema que transforma-se em seu mestre. O trabalhador Marc Tourneuil (Gad Elmaleh) se aventura no mundo feroz do Capital. Ao mesmo tempo, o chefe de um importante banco de investimentos europeu se apega ao poder, quando uma empresa americana tenta comprá-los.

Costa-Gavras é cada vez mais necessário.

Sempre representado bem os poderes que ditam o mundo.

Se daqui a 100 anos, pesquisadores quiserem entender porque nossa sociedade funcionava dessa forma, porque éramos assim e quem mandava na gente, bastará dar uma olhada na filmografia de Costa-Gavras.


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domingo, 23 de fevereiro de 2014

19 – Mensageiro do Diabo (The night of the Hunter) – EUA (1955)


Direção: Charles Laughton
Baseado em um romance de Davis Grubb, conta a história de um assassino de viúvas ricas que, ao sair da prisão, persegue uma família para encontrar um dinheiro escondido.

É um tipo de filme que faz você perguntar: “Charles Laughton, por que você não dirigiu mais nenhum outro filme????”.

Mensageiro do Diabo é o único filme desse diretor, que fez carreira como ator de obras não muito expressivas. Uma pena.

Além de inteligente, o filme agrega diversos elementos. Tem uma fotografia muito bem elaborada, com um trabalho de luzes, de preto e de branco que o coloca como um noir de alto nível. Ele também insere uma temática que cai como uma luva nos tempos atuais: a persuasão de líderes religiosos, que com seu proselitismo cega uma legião de seguidores.

As reviravoltas, o desfecho, algumas sequencias memoráveis, o brilhante conjunto de atores e a trilha sonora são outros ingredientes que fazem com que Mensageiro do Diaboseja, sem dúvida, um dos melhores filmes do gênero noir.


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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

18 – Além da estrada (Por el camino) – Uruguai (2010)


Direção: Charly Barun
Sem perspectivas, Santiago decide ir ao Uruguai conhecer um terreno deixado por seus pais mortos tragicamente alguns anos antes. Na chegada ele encontra Juliette, uma jovem belga em busca de um amor do passado e de uma nova vida. O que parecia ser uma simples carona acaba se transformando em uma breve, porém intensa, jornada. Visitando paisagens e pessoas perdidas no tempo, eles dividem experiências que acabam por aproximá-los.


Um belo filme. Pelas lindíssimas paisagens uruguaias. E pelo romance que, como todo começo de relação, é apaixonante. Além da estrada é simples, fugaz. Mas cai bem para um domingão à tarde.





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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

17 – Solaris (Solyaris) – União Soviética (1972)


Solaris é um planeta distante, que vendo sendo estudado há décadas e cujo mistério sobre seus efeitos ainda não foram esclarecidos, nem os seus efeitos. É quando o psicólogo Kelvin é enviado para a estação espacial, para analisar se vale à pena ou continuar com os estudos da solarística.


Solaris é uma droga. Pesada! Com ele, dá para expandir a mente e o seu estado de consciência. Seu efeito pode durar um dia inteiro, uma semana, meses. Há quem diga que tem gente que não volta nunca. Bastam poucas doses para se alcançar uma sensorial pouco comum. Não é recomendado ver Solaris e Stalker de vez, sob o risco de se ter uma overdose.


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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

16 – Pepi, Luci, Bom (Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón) – Espanha (1980)


Direção: Pedro Almodóvar
Pepi (Carmen Maura) é uma mulher louca, que faz tudo muito depressa. Bom (Olvido Gara), uma sádica líder do grupo Bomitoni, é sua melhor amiga. Um dia conhece Luci (Eva Silva), a esposa de um policial que violentou Pepi ao encontrar vasos de maconha em seu apartamento. Nasce entre as três uma grande amizade, resultando em transformações na vida de cada uma.


Primeiro filme de Pedro Almodóvar.


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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

15 – Infância roubada (Tsotsi) – África do Sul (2005)


Direção: Gavin Hood
Uma noite, após sair de uma briga de bar, Tsotsi, um jovem que comanda uma pequena gang na periferia de Johanesburgo, rouba um carro. No entanto, algo que ele não previa acontece, gerando uma série de conflitos que Tsotsi vai precisar aprender a lidar, mas que pode resultar em uma tragédia.

Mais uma boa produção sul-africana, com ação “a la Hollywood” tendo como pano de fundo os guetos do  país.

Em Tsotsi o roteiro é previsível, seguindo passo a passo a “jornada do Herói”. Mas, por ser bem feito, carrega consigo uma dose de originalidade – talvez pelo próprio cenário e idioma, não tão habituais.

Lembra um pouco Viva Riva!, mas não tão complexo e com uma carga dramática maior. Não deixa de ser uma produção interessante, boa de se ver e que traz uma representação social muito próximo do que estamos acostumados aqui no Brasil.

PS - Confiram a crítica de "Tsotsi", feita por Alexandre Caetano no blog "Artigos de Cinema".


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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

14 – Olhos roubados (Otkradnati ochi) – Bulgária (2005)


Direção: Radoslav Spassov
Essa é a estranha história de amor entre uma professora muçulmana de origem turca e um militar búlgaro responsável pela limpeza étnica que força os muçulmanos a trocar de nome.

A loucura em tempos de ódio e a loucura em tempos de amor.

A loucura e a guerra fria, o massacre cultural de um povo, o autoritarismo de Estado e a violência militar.

A loucura e a inocência, o perdão, a pureza e o afeto.

Se é para viver em um mundo louco, melhor que seja com amor.

Olhos roubados tinha tudo para fazer chorar. Mas tem a proeza de fazer sorrir.


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sábado, 8 de fevereiro de 2014

13 – O jarro (Kromreh) – Irã (1992)


Direção: Ebrahim Foruzesh
Em meio ao deserto iraniano, numa escola, o único jarro que serve de recipiente para os alunos beberem água quebra.

Um jarro. E com ele toda uma representação cultural de um povoado iraniano. E, com ela, um recorte humano: a bondade, a maldade, a humildade, a leviandade, a ingenuidade, a coletividade. A arte de ser professor. A dor e a alegria de educar.


Um roteiro simples e que não se perde em nenhum momento. Escrito de uma forma bastante inteligente, dirigido com a sensibilidade necessária para transmitir a naturalidade dos acontecimentos e interpretado de forma contundente. O jarro é um belo filme, que deixa qualquer iraniano com orgulho!


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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

12 – Cine Holliúdy (idem) – Brasil (2012)


Direção: Halder Gomes
Interior do Ceará, década de 1970. A popularização da TV permitiu que os habitantes da cidade desfrutassem de um bem até então desconhecido. Porém, o televisor afastou as pessoas dos cinemas. É aí que Francisgleydisson entra em ação. Ele é o proprietário do Cine Holiúdy, um pequeno cinema da cidade que terá a difícil missão de se manter vivo como opção de entretenimento.


Personagens caricatas, roteiro previsível e abordagem superficial. E ta í a magia do cinema: o filme é bom. É bom porque faz rir. É bom porque provoca nostalgia. É bom porque abre as portas do cinema cearense. É bom porque faz bem. O resto é mero detalhe.


E teve exibição de Cine Holliúdy no Cine Az, cujo convidado comentou:
"Fantástico!!! A Kaiser intensificou as emoções."


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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

[ESPECIAL] Eduardo Coutinho


2 de Fevereiro de 2014. Yemanjá. Final de festa. Lá pelas tantas da noite, por um acaso, pego o celular. Tinham 7 ligações perdidas e uma mensagem de um amigo: “Eduardo Coutinho foi assassinado! Pelo filho! Barril!!”.

Eu não sei o que me deixou mais perplexo, se foi a forma brutal de sua morte ou se foi a sua morte. Eduardo Coutinho é uma daquelas pessoas que não morrem nunca. E como poderia estar morto? Como poderia ter sido dessa forma?

Eu só fui “conhecer” Coutinho no final da faculdade. Me encantei. Meu TCC foi sobre ele. Analisei Edifício Master e Babilônia 2000 a partir de uma perspectiva cinematográfica e da comunicação comunitária. Acho que nos 6 meses de TCC/Coutinho eu aprendi mais do que nos 6 anos de faculdade. O profissional que eu sou hoje tem Coutinho como premissa e norte. O ser humano que eu sou, também.

Passei 6 anos no curso de Comunicação. Tive ótimos professores. Mas foi com Coutinho, com Socorro e com Tânia, que eu aprendi algo que eu levo para a vida toda: comunicar não é só falar, comunicar é, sobretudo, ouvir. É dialogar. Parece extremamente simples, mas não é.

Ouvir o outro. Se responsabilizar pelo outro. Deixar o outro ser exatamente aquilo que ele quer ser. Entender que nós e o outro somos produto do presente. Que o que fazemos hoje, agora, nesse exato instante, não nos define nem nos rotula. Simplesmente somos e podemos ser a qualquer momento.

A ficção, a verdade, a mentira. Não há brasileiro algum que tenha agregado tantos elementos ao cinema-documentário como Coutinho. O cara era tão foda, que ele se desafiava e resinificava tudo aquilo que ela acabara de fazer. Quando você achava que ele tinha alcançado o ápice do experimento estético, ele aparecia com algo inovador.

É inacreditável que uma pessoa como Coutinho morra.

Existem algumas poucas pessoas que me iluminam. Coutinho é um deles e para sempre será. Eu, como Ser Humano e Comunicólogo, tento sempre abandonar meus pressupostos, descer do meu pedestal, relativizar minhas certezas e enxergar o outro como único. Saber que eu sou só mais um. E que o outro é algo que eu nem imagino, por mais rótulos que ele possua e mais inivisibilizado que ele seja. Mas, paradoxalmente, saber que cada um de nós é capaz de influenciar irreversivelmente a vida do outro. Como Coutinho fez comigo e, certamente, com as centenas de personagens com quem ele se conectou ao longo de suas obras.

Não teremos mais Coutinho para nos ensinar algo novo. Nos resta fazer o melhor possível com o que aprendemos.

No primeiro parágrafo do prefácio do livro “O Documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo”, de Consuelo Lins, há uma boa definição sobre Coutinho: “Num pequeno livro de entrevistas intitulado O único e o singular, o pensador Paul Ricoeur responde assim a uma pergunta sobre o sentido da responsabilidade: “Onde há poder, há fragilidade. E onde há fragilidade, há responsabilidade. Eu diria que o objeto da responsabilidade é o frágil, o perecível que nos solicita. Porque o frágil está, de algum modo, confiado à nossa guarda. Entregue ao nosso cuidado.” Esta é uma boa síntese da obra de Eduardo Coutinho.”

Há alguns anos, participei de um concurso de crítica, analisando Jogo de Cena. E foi justamente a relação de poder utilizada por Coutinho que eu destaquei. É incrível como a cada filme ele abdicava de sua confortável posição poderosa, de alguém que tem um status e uma câmera na mão, apontada para a cabeça do outro. Seu exercício era de horizontalizar cada vez mais a relação com seus personagens filmados e se tornar cada vez menos dono de seus próprios filmes.

Esse exercício também alcançava algo que é sua marca: a ética. A ética de Coutinho é tanta que se confunde na própria estética de seus filmes. Sua ética é a sua própria estética. Uma não existiria sem a outra.

Saber lidar com o poder. Enxergar o outro como protagonista. É por isso que Coutinho, suas obras, sua ética e seu senso de responsabilidade são premissas fundamentais para quem quer ser policial, professor, comunicólogo, presidente da república ou cineasta. O outro. Essa é a verdadeira revolução. E nenhum cineasta alcançou o outro tão bem quanto Coutinho.

“Eu estou interessado em conhecer, não posso transformar o mundo com um filme, já sei disso há mais de 20 anos. Se pudéssemos transformar o mundo com um filme, não sei se eu seria capaz de fazer esse filme. Temos de ter dados sensíveis, e os filmes podem dar esses dados. Se você não conhece não pode transformar direito”.

Que Yemanjá acalente sua alma. E que os brasileiros não o deixem cair no esquecimento.

“Tudo isso depende da saúde física, da saúde moral, da vontade, enfim, tudo é sempre contingente, tudo é uma possibilidade. Se fosse daqui a um mês... Mas daqui a seis meses, eu não sei o que isso pode significar, e é nessa coisa duvidosa que a gente vive. Só sei que será um filme sem pesquisa e em um universo distante, o que torna a filmagem mais irreversível. Ou dá certo ou não dá...”


Download:

*Pacote de torrent com a filmografia quase completa de Eduardo Coutinho:
O homem que comprou o mundo (1968)
Faustão (1971)
Seis dias de Ouricuri (1976)
Teodorico, o imperador do sertão (1978)
O fio da memória (1991)
Babilônia, 2000 (1999)
Edifício Master (2002)
Peões (2004)
O fim e o princípio (2005)
Jogo de Cena (2007)
Moscou (2009)

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